por Patrízia R. Abdallah, Jorge P. Castello, Denis Hellebrandt e José H. Muelbert


Setores econômicos produtivos são constantemente afetados por mudanças climáticas, implicando em efeitos sociais negativos, que são absorvidos por diversos segmentos da sociedade (local, regional, nacional e internacional). O dimensionamento dos impactos de mudanças climáticas sobre a atividade pesqueira em regiões costeiras, e sua conseqüência sobre a economia e a sociedade afetada, são temas bastante relevantes na atualidade (Young e Steffen, 2007; Harrington e Walton, 2008; Borisova et al., 2008). As conseqüências de longo prazo destes impactos ainda são incertas, pois o período de observação ainda é muito curto, mas os efeitos poderão ser múltiplos, pois a biodiversidade e outros recursos naturais em que a economia de regiões costeiras está baseada serão diretamente afetados pela mudança climática.

As pescarias dependem do fluxo de energia através dos diferentes níveis da produção secundária. Mudanças climáticas operam em diferentes estágios dos ciclos produtivos afetando de maneira direta, indireta e sinérgica esses processos. Muitos estoques importantes comumente se reproduzem em zonas costeiras e utilizam regiões estuarinas para se desenvolver (Peterson, 2003, Nagelkerken et al., 2008). Como seus primeiros estágios de vida são planctônicos, os organismos são transportados passivamente por correntes, sendo susceptíveis a mudanças no balanço hidrológico (Moller et al., subm.; Martins et al., 2007; Staunton-Smith et al., 2004). Em ambientes estuarinos e costeiros, este balanço, que depende dos níveis de precipitação, descarga continental e intrusão de água salgada, deverá ser alterado em um cenário de mudanças climáticas (Haylock et al., 2006).
Redução de estoques pesqueiros, advindas de mudanças climáticas e oceanográficas, afetarão a economia de um setor que já depende de recursos sobre-explotados e mal gerenciados. Entre os impactos esperados, os efeitos sobre as pescarias de subsistência e de pequena escala podem ser devastadores, pela falta de mobilidade e alternativas tecnológicas. Assim, tais impactos poderão afetar diretamente pescadores, comunidades pesqueiras e a sociedade local/regional, em seus aspectos econômicos e sociais. A relação entre tendências e choques associados a variabilidade e mudança climática têm recebido considerável atenção na literatura que trata de sistemas em grande escala, tais como a pesca de pequenos pelágicos em sistema de ressurgência (veja Glantz, 1999 para uma extensa revisão neste âmbito). No entanto, um número relativamente reduzido de trabalhos têm focado os processos relacionados a vulnerabilidade e adaptação à mudança climática no contexto da pesca artesanal e do uso de outros recursos costeiros (Armitage, 2005; Grafton and Kompas, 2005; Olsson et al., 2004; Tompkins and Adger, 2004; Berkes et al., 2000).
Mudanças climáticas e variabilidade oceanográfica no Atlântico Sudoeste é um tema que tem sido intensamente abordado por redes de pesquisa cooperativas interinstitucionais e internacionais (South American Climate Change Consortium - SACC/IAI; SACC-HD: Human Dimension Approach). Dentre os ambientes mais estudados encontra-se o estuário da Lagoa dos Patos, que possui papel fundamental na manutenção da biodiversidade e da produtividade pesqueira do extremo sul do Brasil (Seeliger et al., 1997). A compreensão dos efeitos das mudanças climáticas sobre os estoques pesqueiros, e seus impactos sobre a pesca artesanal e sobre a sociedade local/regional, contribuirá para análises de vulnerabilidades sociais em regiões costeiras e estuarinas.

Referências:

Referências:

Armitage, D. 2005. Adaptive capacity and community-based natural resource management, Environmental Management 35: 703-715.Berkes, F., Colding, J. and Folke, C. 2000. Rediscovery of traditional ecological knowledge as adaptive management, Ecological Applications 10: 1251-1262.Glantz, M. H. 1992. Climate variability, climate change, and fisheries. Cambridge Cambridge University Press.Grafton, R.Q. and Kompas, T. 2005. Uncertainty and the active adaptive management of marine reserves, Marine Policy 29: 471-479.Nagelkerken I, Blaber SJM, Bouillon S, Green P, Haywood M, Kirton LG, Meynecke JO, Pawlik J, Penrose HM, Sasekumar A, Somerfield PJ. 2008. The habitat function of mangroves for terrestrial and marine fauna: A review.AQUATIC BOTANY 89(2): 155-185.Olsson, P., Folke, C. and Berkes, F. 2004. Adaptive co-management for building resilience in social-ecological systems, Environmental Management 34: 75-90.Peterson MS. 2003. A conceptual view of environment-habitat-production linkages in tidal river estuaries. REVIEWS IN FISHERIES SCIENCE, 11(4):291-313.Staunton-Smith J, Robins JB, Mayer DG, Sellin MJ, Halliday IA. 2004. Does the quantity and timing of fresh water flowing into a dry tropical estuary affect year-class strength of barramundi (Lates calcarifer)? MARINE AND FRESHWATER RESEARCH, 55(8): 787-797.Martins IM, Dias JM, Fernandes EH, Muelbert JH. 2007. Numerical modelling of fish eggs dispersion at the Patos Lagoon estuary – Brazil. JOURNAL OF MARINE SYSTEMS, 68(3-4): 537-555.Young, C.E.F.; Steffen, P.G.. 2007. Conseqüências econômicas das mudanças climáticas. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. No. 85.Harrington, J. and Walton, T.L. 2008. Climate change in coastal areas in Florida: Sea level rise estimation and economic analysis to year 2080. Florida State University, Tallahassee, FL. http://www.tcsurfrider.org/documents/FLprojectedSeaLevelRise.pdfBorisova, T.; Breuer N.; Carriker, R. 2008. Economic Impacts of Climate Change on Florida: Estimates from Two Studies. EDIS document FE787. University of Florida, FL. (http://edis.ifas.ufl.edu).Nagelkerken I, Blaber SJM, Bouillon S, Green P, Haywood M, Kirton LG, Meynecke JO, Pawlik J, Penrose HM, Sasekumar A, Somerfield PJ. 2008. The habitat function of mangroves for terrestrial and marine fauna: A review. AQUATIC BOTANY 89(2): 155-185.Peterson MS. 2003. A conceptual view of environment-habitat-production linkages in tidal river estuaries. REVIEWS IN FISHERIES SCIENCE, 11(4): 291-313.Staunton-Smith J, Robins JB, Mayer DG, Sellin MJ, Halliday IA. 2004. Does the quantity and timing of fresh water flowing into a dry tropical estuary affect year-class strength of barramundi (Lates calcarifer)? MARINE AND FRESHWATER RESEARCH, 55(8): 787-797.Martins IM, Dias JM, Fernandes EH, Muelbert JH. 2007. Numerical modelling of fish eggs dispersion at the Patos Lagoon estuary – Brazil. JOURNAL OF MARINE SYSTEMS, 68(3-4): 537-555.