por Francisco G. Araújo, João P. Vieira e Alexandre M. Garcia

Mudanças climáticas podem afetar indivíduos, populações e comunidades de peixes através de respostas fisiológicas e comportamentais. Elevações na temperatura da água, diminuição no oxigênio dissolvido, variações na salinidade e pH podem ter efeitos deletérios sobre peixes marinhos e estuarinos (Moyle & Cech, 2004), através da redução do alimento, do crescimento e da fecundidade, e de alterações sobre a homeostase endócrina e comportamento migratório (Donaldson, 1990; Pörtner et al., 2001). Mudanças na hidrodinâmica e elevação do nível do mar resultam em perda de habitats intermareais, aumento da eutrofização, hipoxia e anoxia em estuários e sistemas costeiros semi-fechados (Kennedy, 1990; Ray et al., 1992; Schwartz, 1998). Muitas populações nativas, por viverem próximos ao limite de tolerância em estuários e sistemas costeiros, exibirão respostas rápidas às mudanças regionais, incluindo reduções na abundância, extinção local de espécies, o que poderá contribuir para o aumento da vulnerabilidade do sistema a espécies invasoras (NCAG 2000). Diferentes populações podem reagir de modo diferenciado às mudanças climáticas, com espécies que desovam em zonas rasas podendo ser mais afetadas do que espécies que desovam em águas mais profundas, as quais são hidrograficamente mais estáveis (Rose, 2005). Impactos sobre espécies chaves forrageiras (por exemplo, sardinhas e manjubas) afetarão mais drasticamente a estrutura trófica dos ecossistemas, reduzindo a produtividade de espécies que se alimentam destes recursos. No Brasil, os trabalhos existentes no âmbito de mudanças climáticas e peixes estuarinos baseiam-se no estudo da influência das anomalias climáticas, como as causadas pelo fenômeno ENOS (Garcia et al, 2001, 2003, 2004). O efeito das mudanças climáticas não será uniforme sobre todos os oceanos, sendo mais um fator de complicação, justificando estudos de casos específicos. Portanto, estudos comparativos sobre as respostas da ictiofauna entre diferentes regiões da costa brasileira, tornam-se ferramentas fundamentais nas análises preditivas e nas decisões de manejo, visando a conservação dos recursos pesqueiros.