por Cléber Palma da Silva

A mudança climática vai alterar os ecossistemas de água doce, mas os efeitos específicos irão variar entre regiões e o tipo de corpo de água (Mooij et al, 2005). Um grande número de lagos ao redor do mundo tem diminuído de área nas últimas décadas, principalmente devido aos usos antrópicos da água, mas também por alterações nos regimes de precipitação pluviométrica causadas pelo aquecimento global. Para muitos lagos, rios e áreas úmidas que têm sido alterados por utilização humana, as mudanças climáticas tendem a exacerbar a situação de impactos negativos nestes sistemas, tendo como resultado a redução na disponibilidade de água (IPCC, 2007). Os pulsos de nutrientes e subseqüentes desenvolvimentos de florações algais serão amplificados em um clima mais quente e o grau de mudança dependerá fortemente da morfometria do lago e de seu status trófico (Wilhelm and Adrian, 2008). O aumento da temperatura, apenas um dos efeitos das mudanças climáticas, provocará mudanças nas taxas de evapotranspiração e na freqüência e intensidade das precipitações, sendo ainda uma variável que atua sobre todos os processos biológicos (Moss et al., 2003). As diferenças nas respostas das espécies sob várias condições indicam que uma elevação no CO2 atmosférico pode induzir mudanças drásticas na produtividade e dominância de espécies em ecossistemas de água doce, acelerando a eutrofização destes sistemas (Shippers et al, 2004). Os lagos rasos, dominados por macrófitas submersas em águas claras, passarão para estágios de águas turvas, dominados por crescimentos algais fitoplanctônicos em um ambiente que terá modificado seu aporte de nutrientes, afetando todos os mecanismos das tramas tróficas. Estes mecanismos incluem competição por nutrientes entre plantas e algas, e o fornecimento de refúgios para invertebrados pastadores ou raspadores de perifíton (Moss et al, 2003). Características como regime de oxigênio dissolvido, potencial redox, estratificação da água e taxas de mistura, assim como o desenvolvimento da biota, são dependentes da temperatura. O aumento da temperatura na água afeta também a capacidade de auto-depuração de rios, pela redução na quantidade de oxigênio que pode ser dissolvido e utilizado na biodegradação. Altas temperaturas afetam os microorganismos e invertebrados bentônicos e a distribuição de muitas espécies de peixes, além de alterar a vulnerabilidade dos ecossistemas aquáticos a invasão por espécies exóticas e a extinção das nativas (Kling et al., 2003; Moss et al., 2003; Chu et al., 2005; Zalakevicius and Svazas, 2005). As maiores mudanças devem ocorrer na composição de espécies, na variabilidade sazonal da abundância e produção das comunidades planctônicas e nas interações tróficas, com conseqüentes mudanças na qualidade de água (Winder and Schindler, 2004; Weyhenmeyer, 2004).