por Paulo A. Horta e Margareth S. Copertino

Algas calcáreas são consideradas construtoras de recifes, constituem substrato estável e heterogêneo para muitos organismos bentônicos (Foster et al.,1997, Riosmena-Rodríguez 1996), contribuindo ainda para a produção de sedimentos marinhos (Cruz-Orozco et al. 1996). Através da fixação de carbono inorgânico pela fotossíntese e a posterior deposição sob a forma de carbonatos, bancos de algas calcáreas desempenham papel crucial como sumidouro de dióxido de carbono nas regiões costeiras dos oceanos (Keyplas & Langdon 2006).

A absorção de CO2 pelos oceanos deve moderar os efeitos do aquecimento global. Entretanto, o aumento das concentrações deste gás na água do mar esta acarretando mudanças no ciclo biogeoquímico do carbono, principalmente devido ao fenômeno conhecido como acidificação dos oceanos.

Quando o carbono atmosférico é absorvido pelo oceano, torna-se reativo com a água, produzindo íons de hidrogênio e formando ácido carbônico (H2CO3). O aumento deste último composto é o responsável por tornar o oceano mais ácido e modificar o equilíbrio químico entre as espécies de carbono inorgânico dissolvidas na água. O carbono inorgânico dissolvido na água do mar (CID) ocorre em três principais formas (espécies) as quais são 1) dióxido de carbono aquoso(CO2 aq), 2) bicarbonato (HCO3-) e 3) íons carbonato (CO32-). As reações de equilíbrio químico entre estas espécies químicas e os prótons (H+) liberados pela água formam um sistema tampão natural, que impede oscilações significativas do pH e mantém condições apropriadas para os processos biológicos marinhos. Nas condições atuais, a grande parte do carbono inorgânico ocorre na forma de bicarbonatos, uma pequena fração ocorre como íons carbonatos e um mínima fração como dióxido de carbono livre na água. O aumento induzido do CO2 na água, e o conseqüente aumento nas concentrações de ácido carbônico, modifica este equilíbrio delicado e a abundância relativa das espécies químicas do carbono, causando um aumento na abundância do CO2 e dos bicarbonatos, e redução nas concentrações dos íons carbonatos. A redução deste último implica em profundas alterações para a vida marinha, particularmente para os chamados organismos calcificadores.

Esta tendência de acidificação dos oceanos está causando alterações e desequilíbrios na química das diferentes formas de carbonatos (Keyplas & Langdon 2006), reduzindo as taxas de calcificação de algas calcáreas em 17 a 35% (Caldeira & Wickett 2003). No Brasil, bancos de algas calcáreas (rodolitos) ocorrem em praticamente toda plataforma continental, em profundidades entre 10m até aproximadamente 120m (Kempf, 1970; Horta et al., 2001). Estes bancos possuem elevado potencial econômico (Blunden et al. 1997) e mais de 100.000 toneladas métricas de rodolitos são explotadas por ano no litoral brasileiro (Riul et al. 2008). Apesar de autores terem descrito a costa brasileira como apresentando um dos maiores bancos contínuos de rodolitos do mundo (Kempf 1970, Foster 2001), muito pouco ainda se sabe sobre a composição de espécies, a estrutura e, particularmente, a verdadeira extensão ocupada por tais bancos. Para ser possível uma avaliação das conseqüências das mudanças climáticas sobre bancos de rodolitos, questões básicas sobre a ecologia e ecofisiologia das espécies dominantes necessitam ser respondidas, particularmente sobre suas taxas de produção primária e crescimento, eficiência e capacidade de calcificação, assim como os efeitos da temperatura e pH sobre tais parâmetros. Para estimativas em larga escala, seria ainda necessário o mapeamento da área ocupada pelos bancos. Em tais profundidades em que estas algas existem, metodologias de sensoriamento remoto por hidroacústica poderiam oferecer um grande potencial. Porém, as aplicações desta técnica para avaliar bancos de algas calcáreas ainda necessitam ser calibradas e validadas.

Última atualização (Qua, 22 de Junho de 2011 23:59)