por Sônia M. F. Gianesella e Áurea M. Ciotti

Os modelos climáticos atuais prevêem que o aquecimento das águas superficiais dos oceanos reduzirá a camada de mistura vertical, gerando oscilações na distribuição vertical e horizontal dos organismos, potencialmente induzindo mudanças na biomassa e produção fitoplanctônicas, alterando ainda sua composição específica (Huisman et al. 2006). Variações na estrutura da comunidade do fitoplâncton refletem sobre a capacidade de seqüestro do CO2 atmosférico pelos oceanos, seja através de variações na eficiência fotossintética da comunidade ou dos possíveis caminhos e destinos do carbono incorporado, incluindo sua exportação para as regiões profundas do oceano (Sarmiento et al., 2001).

A região costeira do Atlântico Sudoeste possui características locais (Ciotti et al., 1995) que permitem algumas hipóteses sobre o impacto de aumento da temperatura da água. As águas sobre a plataforma continental, com influência da descarga do rio da Prata, permanecem nas camadas superficiais devido às suas características termo-halinas, formando uma pluma com largura variável entre 50 e 150 km e uma extensão de até 1.500 km, chegando a alcançar a região de Cabo Frio (RJ). Dependendo da extensão da pluma, correntes costeiras na região sul/sudeste do Brasil teriam sua salinidade da camada superficial reduzida, acentuando a diferença de densidade entre camada de mistura e águas profundas. Devido às mudanças climáticas, maiores taxas de precipitações estão previstas para região sul da América do Sul, particularmente sobre Bacia do Rio da Prata. Portanto, haveria uma tendência de aumento da influência da pluma do Rio da Prata no Atlântico Sudoeste, com reflexos na salinidade da camada superficial do oceano. Essa diminuição da salinidade, acoplada ao aumento da própria temperatura em superfície, deve gerar condições anômalas para a estrutura vertical da coluna de água, com conseqüências nas relações entre a disponibilidade luminosa e a turbulência local (Cullen et al, 2002), que representam os principais forçantes da estrutura da comunidade. Desta maneira, mudanças climáticas poderão afetar as características físico-químicas da região costeira do sudeste e sul do Brasil, afetando o papel do fitoplâncton como sorvedouro de CO2, de modo não previsto nos modelos globais atuais.