por Douglas Gherardi

Os impactos das mudanças climáticas sobre a produtividade e biodiversidade dos ecossistemas marinhos dependem da velocidade, coerência e extensão espacial dos fluxos de massa e energia nas bacias oceânicas, resultantes da conexão entre os componentes físicos (acoplamento oceano-atmosfera) e os sistemas biológicos (Molinero et al. 2008). Além disto, estes fluxos interferem nos processos ecológicos responsáveis pela manutenção de populações de organismos nos diferentes níveis tróficos. Portanto, o desenvolvimento de estratégias de explotação e conservação destes recursos e de sua biodiversidade em geral, em nível multinacional, depende da compreensão dos limites geográficos, da dinâmica e condições de contorno dos grandes ecossistemas marinhos (GEM) (Keyl e Wolff, 2008).
Para entender os efeitos das mudanças sobre os ecossistemas marinhos é necessário que se definam objetivamente unidades funcionais capazes de reagir a estas mudanças. Por isso, o conceito de grandes ecossistemas marinhos (GEMs) é aqui proposto como unidade funcional básica para o entendimento da influência das mudanças climáticas nos oceanos. Os GEMs podem ser caracterizados e definidos com base na análise conjunta de diversas variáveis como concentração superficial de clorofila-a, produtividade primária, transparência da água, temperatura da superfície do mar, campo de vento na superfície, profundidade da camada de mistura, precipitação, batimetria, salinidade, vazão das principais bacias de drenagem que desembocam no oceano, entre outros parâmetros. Os dados contidos em séries climatológicas, incluindo produtos de re-análise e aqueles coletados por plataformas orbitais já estão disponíveis em escala global e contemplam a quase totalidade das variáveis mencionadas. Entretanto, estes dados necessitam ser organizados em um banco de dados representativo das áreas de interesse de modo a facilitar sua análise conjunta. É importante salientar que os GEMs, ainda que preliminarmente definidos, não foram validados para as águas jurisdicionais brasileiras. Para a análise das mudanças climáticas sobre os GEMs da costa brasileira, é necessário ainda definir seus domínios espaciais e investigar sua variabilidade temporal. Somente após analisar esta variabilidade e sua relação com as tendências das mudanças climáticas globais, poderão ser realizadas avaliações sobre a vulnerabilidade destes grandes ecossistemas.