por José M. Landim Dominguez e Lauro J. Calliari

Grande parte da costa brasileira vem sofrendo processos de erosão acelerada tanto em setores urbanizados como naqueles ainda não ocupados (Muehe, 2006). Mudanças climáticas podem desencadear ou agravar este fenômeno, ao provocar mudanças no nível do mar, na distribuição das chuvas e na freqüência direcional e intensidade dos ventos, fatores que afetam a hidrodinâmica e o balanço e a dispersão dos sedimentos ao longo da costa. Mudanças na descarga sólida de rios e na frequência direcional de ondas, não só nas últimas décadas como também nas escalas histórica e geológica, podem acelerar os processos de erosão e/ou avanço da zona costeira (progradação), acarretando em grandes prejuízos às cidades costeiras.

A planície costeira brasileira apresenta uma superfície ornamentada por cordões litorâneos e/ou rochas praiais (beachrocks), marcando antigas posições da linha de costa deixadas para trás como resultado da progradação nos últimos 5.000 anos, que permitem reconstruir a história evolutiva da costa (Bezerra et al 2003, Caldas et al. 2006, Vital et al. 2006, Santos et al. 2007, Vital 2008 ). Esta região, que inclui deltas e estuários de alguns dos principais rios e lagunas do Brasil, está sujeita a variações sazonais bem definidas na freqüência direcional de ondas. O transporte de sedimentos transversal à praia, que promove a troca de material entre a parte submersa e subaérea da praia, possui papel crucial dentro da dinâmica costeira e formação da linha da costa. Parte desse transporte ocorre na região do espraiamento (Osborne & Rooker, 1999), controlados por processos hidrodinâmicos na zona de arrebentação (Beach & Sternberg, 1991). A zona de espraiamento é, portanto, de grande importância na determinação da suscetibilidade da região costeira à erosão (Sallenger, 2000; Ruggiero et al., 2001), possuindo papel fundamental no planejamento e manutenção de obras de proteção costeira (e.g. van der Meer & Stam 1992). Nesta zona limítrofe, entre o oceano e o continente, é onde ocorrem processos erosivos intensos durante tempestades (Komar, 1998).

A ação de tempestades associada a ciclones extra-tropicais, formando marés meteorológicas, constituem o maior risco natural as comunidades costeiras, sendo a maior causa natural de perda de propriedade, habitats naturais e, em muitos casos, vidas (Murty 1988). As conseqüências potenciais destas tempestades implicam na necessidade de ferramentas que reconheçam zonas vulneráveis ao risco de inundações. Esses fatores já têm sido modelados e as informações resultantes constituem a base para o mapeamento de risco (Benavente et al. 2006). De forma a obter dados com melhor resolução e precisão espacial e temporal, estudos recentes combinaram as informações extraídas de imagens com modelos numéricos (Aarninkhof et al. 2005, Siegle et al. 2006, Siegle et al. 2007; Smit et al. 2007). Estas aplicações combinadas, em que existe a retro-alimentação entre a saída de dados do modelo com os dados extraídos das imagens, têm demonstrado um grande potencial para melhor entender os processos morfodinâmicos costeiros.

Dentro do estudo do fenômeno da inundação e erosão costeira, é necessário um enfoque integrado, que considere a ação de tempestades, evolução costeira de longo período, características geológicas e geomorfológicas da ante-praia e morfodinâmica da zona de arrebentação, sob vários cenários de possível elevação do nível do mar. Tal enfoque produzirá dados mais reais que, além de conduzir ao entendimento das causas, permitirá a quantificação e o mapeamento diferenciado dos impactos das mudanças climáticas nos ambientes costeiros.

Referências:

Bezerra, F.H.R., Barreto, A.M.F., and Suguio, K., 2003, Holocene sea-level history on the Rio Grande do Norte State coast, Brazil: Marine Geology, v. 196, p.73–89.
CALDAS, L.H.O., STATTEGGER, K., AND VITAL, H., 2006, Holocene sea-level history: evidence from coastal sediments of the northern Rio Grande do Norte coast, NE Brazil: Marine Geology, v. 228, p. 39–53.
SANTOS, C.L.A., VITAL, H., AMARO,V.E., AND KIKUCHI, R.K.P., 2007, Mapeamento de recifes submerses na costa do Rio Grande do Norte, NE Brasil: Macau a Maracajau: Revista Brasileira de Geofísica, v. 25, (Supl. 1) p. 27–36.
VITAL, H., 2008, The mesotidal barrier of Rio Grande do Norte, in Dillemburg, S., and Hesp, P., eds., Geology of Brazilian Holocene Coastal Barriers: Heildelberg, Springer-Verlag.
Vital, H., Amaro, V.E., and Silveira, I.M., 2006, Coastal erosion on the Rio Grande do Norte State (Northeastern Brazil): Causes and factors versus effects and associated processes: Journal of Coastal Research, Special Issue, v. 39, p. 1307–1310.